terça-feira, 18 de dezembro de 2012

tudo dito, um beijo


É fácil saber se um amor é o primeiro amor ou não. Se admite que possa ser o primeiro, é porque não é, o primeiro amor só pode parecer o ultimo amor. É o único amor, o máximo amor, o irreptível e incrível e antes morrer que ter outro amor. Não há outro amor. O primeiro amor ocupa o amor todo. Nunca se percebe bem por que razão começa. Mas começa. E acaba sempre mal só porque acaba. Todos os dias pareçe estar mesmo a começar porque tudo vai bem, e o coração anda alto. E todos os dias pareçe que vai acabar porque as coisas vão mal, e o coração anda em baixo. O primeiro amor dá demasiadas alegrias, mais do que a alma foi concebida para suportar. É por isso que a alegria dói - porque pareçe que vai acabar de repente. E o primeiro amor dói sempre mais, sempre muito mais do que aguenta e encaixa o peito humano, porque a todo o momento se sente que acabou de acabar de repente. O primeiro amor, não deixa de parte um único bocadinho de nós. Nenhuma inteligência ou atenção consegue guardar para observá-lo. Fica tudo ocupado. O primeiro amor ocupa tudo. É inobservável. É dificil sequer reflectir sobre ele. O primeiro amor leva tudo e não deixa nada. Diz-se que não há amor como o primeiro e é verdade. Há amores maiores, amores melhores, amores mais bem pensados e apaixonadamente vividos. Há amores mais duradouros. Quase todos. Mas não há amor como o primeiro. É o único que estraga o coração e que o deixa estragado. É como a criança que põe os dedos dentro de uma tomada. É esse o choque, a surpresa do primeiro amor. Os outros amores poderão ser útei, até mais bonitos, mas são como ligar electrodomésticos à corrente. Este amor moi-nos o juízo. Depois dele, os olhos e os braços e os lábios deixaram de ter qualquer interesse ou utilidade (..). O primeiro amor é uma chapada sem mão, é uma voragem que nos come as entranhas e não nos explica. O primeiro amor está além das categorias normais da dor e do prazer. Não faz sentido sequer. Não tem nada a ver com a vida. Pertence a um outro mundo, mundo esse que tem apenas duas cores que o caracterizam - o preto-preto feito de todos os tons de preto do planeta e o branco-branco feito de todas as cores do arco-íris, todas a correr umas para as outras. (..) Não existem regras para gerir o primeiro amor. Se fosse possivel ser gerido, ser previsto, ser agendado, ser cuidado, não seria o primeiro. A única regra é: Não pensar, não resistir, não duvidar. Como acontece em todas as tragédias, o primeiro amor sofre-se principalmente por não continuar (..).


 love you, d

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